Querid@s,
Antes de sair para a festança de ano-novo, segue o último presente do G1. Infelizmente, não anotei e me deu branco (me ajudem, por favor!!!!) de quem nos trouxe este presente... O poema "Soldado de chumbo", de Serginho Poeta:
Segue também o
link para o áudio do poema e um vídeo com a declamação de Serginho no sarau do Binho (o link está ao lado)
VIDEO
SOLDADOS DE CHUMBO
Quando
apagam a luz
Da
última cela do meu pavilhão
Um
clarão vem iluminar a minha janela
É
a lua
Não
sei o que seria de mim se não fosse ela
O
sentinela caminha de um lado para outro
Acende
um cigarro...
Um
carro passa por trás da muralha
Não
posso vê-lo, apenas ouvi-lo
Não
posso tocá-lo, mas posso senti-lo
É
engraçado
Não
fosse pelo andar desengonçado
Pela
deselegância
Diria
que o homem fardado
Se
parece com alguns soldados de chumbo
Que
ganhei na minha infância
Minha
mãe trabalhava
Por
quanto tempo durasse o dia
E
acaso, não fosse o bastante
Seu
esforço tinha a noite como companhia
Às
vezes, me levava para o emprego
E
eu ficava confinado à área de serviço
Talvez
porque a patroa não gostasse de negros
Circulando
pelos cômodos do seu luxuoso cortiço
Quando
acordava de bom humor
Danava-se
a falar do moleque sem cor
Que
queria que fosse engenheiro
Sei
que minha mãe sonhava pra mim
Um
futuro semelhante
Mas
quando olhava pro neguinho
Com
ar de maloqueiro
Arriava
o semblante e sofria
Como
quem descobre uma infinita distância
Entre
desejo e realidade
Certo
dia
A
madame me deu de esmola
A
Guarda Real Britânica
Em
formato de miniaturas
Criaturas
sem pernas ou braços
Que
o pequeno engenheiro enjoou
Eu
tinha, lá em casa
Uma
tribo com dezenas de caixas de fósforos
Daquelas
amarelas
Com
a figura de um índio estampado nos rótulos
Vivazes,
meus amigos me eram sagrados
E
estavam sempre prontos
Para
conterem a invasão
Dos
soldadinhos amputados
Outros
mais me foram dados
Mas
minha tribo sempre vencia
Por
mais que o pelotão crescesse
Era
como se pelo menos ali, naquele dia
O
neguinho também vencesse
Eu
era pequeno, gigante na minha imaginação
Não
creio que o fabricante mais astuto
Pudesse
imaginar que seu produto
Fosse
além de acender cigarro ou fogão
À noite
Quando
minha mãe voltava pra casa
Silenciávamo-nos
a todo custo
Para
velarmos seu sono tão justo
Depois,
cada peça do meu invento
Ia
para debaixo do colchão
Ao
lado do bloco de cimento
Que
sustentava minha cama
A
dois palmos do chão
Quando
Deus achou que era a hora
Resolveu
levar minha santa senhora
Antes
que ela pudesse perceber
No
que a vida me transformou
Se
foi ganância, fraqueza ou necessidade
Não
sei
Ninguém
nunca me explicou
Amanhã,
é dia de visita
Meu
filho, a criança mais bonita
Virá
me conhecer
Vou
rezar até o amanhecer
Para
que a vida também não o torne um bandido
Para
que seja talvez como minha mãe sonhou
Um profissional bem-sucedido
E
se acaso eu perceber
Que
ainda existe uma infinita distância
Entre
desejo e realidade
Maior
terá que ser meu pensamento
Mais
forte há de ser minha vontade!
Abraços fraternos
Giba
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